Falando sobre um bem que faz mal.

Ontem demorei pra dormir. Vento no telhado, silêncio da noite, frio, e eu. Só. Éramos apenas eu e o meu cobertor. Nem o cheiro dele restou. Nada. Não pensei que fosse ser fácil, mas também nunca imaginei que fosse ser tão dificil. Não chamo de solidão; não, não falo se quer em solidão. Falo em mágoa, tristeza. Parece que foi tudo o que restou. E o que fazer quando tudo o que resta é a tristeza? Nada. Cheguei a conclusão de que nada que se faça pode melhorar essa dor que dói sem que se quer a gente possa ter o direito de saber onde. E a saudade? Por enquanto ela ainda não permitiu que eu falasse. Quando ela permitir, vão poder saber que eu sofro, mas mesmo sofrendo, não me sinto pela metade. Não me sinto pela metade porque continuo sendo eu, e sou maior que essa dor. Não tão maior, mas maior o suficiente pra me fazer capaz de falar sobre ela. Pra quem? Pra mim. Percebi que sou tudo o que preciso, e se preciso mesmo de alguém, esse alguém sou eu, apenas eu. Eu e o meu silêncio. Ele? Não sei. Hoje me importo menos que ontem. Meu sentimento sempre existiu, e nunca precisou de ninguém pra que isso acontecesse. Amo por mim, amo pelo meu coração, amo pela minha felicidade, amo apenas pelo próprio amor. Amo, apenas amo. Não preciso de nada mais que isso. De que preciso? Preciso do alívio pra essa angústia que dói de um jeito que chega a ser insuportável. Preciso da certeza de que outros também sofrem da mesmo doença. Preciso de uma dor que eu saiba onde dói, e porque dói. Preciso do conforto de acreditar que essa dor um dia vai passar. Preciso de coragem pra me reinventar, pra me jogar, bem de longe, lá do alto, e confiar que esse voo vai ser tão leve quanto um beijo de alguém amado. Preciso aceitar que, por hoje, o meu destino é sofrer. O que eu tenho? Tenho a certeza de que o sol ainda brilha lá fora, mesmo sabendo que aqui dentro cai apena chuva.

V. Rodrigues

Ao som de Vento no Litoral - Renato Russo e Cássia Eler