janeiro 23, 2011

amante.

Domingo. Já era verão, mas não estava quente. Muito pelo contrário, estava era um friozinho gostoso de se sentir, daqueles que não te incomoda, não te faz tremer, só faz o seu pé ficar geladinho como se pedindo por uma meia. Ela levantou meio preguiçosa da cama e foi colocá-la, a meia. Negocinho estranho era ela, principalmente em dia de domingo. Na rua um barulho de carro que vai e que vem, um barulho de som em um barzinho, uma galera bebendo pra comemorar o domingão, e ela em um quarto, sozinha, companheira de um edredom e do Caio. Morangos Mofados. Escutou alguém falando desse livro e resolveu que ia le-lo. Gostava do Caio, gostava do jeito como ele falava das coisas que ela só engasgava, mas não conseguia dizer. Achava legal a falta de cerimônia que ele tinha, queria por vezes ser como ele. O livro era bom. Meio maluquinho, meio que um aglomerado de coisas diferentes juntas em um só lugar, era do jeito que ela desconfiava que seria. E enquanto lia, sorria sempre que encontrava uma citação que já conhecia. Relia. Tentava colar aquilo na alma, pra ver se a alma curava. Chorava. E sentia vontade de gritar. "Por que não consigo ser como ele, meu Deus. Por que você não me deu a capacidade do Caio de botar pra fora esse monte de nó que esgana o coração.
Não tinha planos de estar sozinha. Tinha era feito planos deliciosos, tomado banho, se arrumado toda, colocado perfume, passado um pouco de gloss, e ficado esperando por ele. Quando ele chegou fez foi dizer que ela tinha feito como se ele não tivesse chegado, que ele não tava num bom dia. "É melhor eu ir embora. Você fica chateada?" Ela deu um sorrisinho, e disse o de sempre. "Claro que não." Quando ele foi, ficou pensando: "Será que ele não teria ido se eu tivesse dito que ficava?" Uma vozinha respondeu: "Teria, do mesmo jeito que foi. A diferença é que você teria uma honrinha de nada pra guardar." À merda a honra. Nunca ligou pra isso. Queria era ele, mas como não tinha, ficou com o Caio, o edredom, e agora as meias. Pensou: "Será que eu tenho jeito?" Achou muito pouco provável, mas quando a mágoa ficou tão azeda que a lágrima ameaçou rolar, Caio veio e lhe deu um abraço:
"(...) te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia. Me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve pra longe da nossa boca esse gosto azedo de solidão."
Desejou Caio. Desejou pra ti a eternidade. E desejando pra ti, desejou também pra ela, porque esse domingo seria inferno sem você por perto. "Axé, axé, axé, axé" repetiu como ele havia repetido outrora naquele conto, na esperança de que o seu gosto azedo também fosse embora.

V. Rodrigues,
em um domingo qualquer.

2 comentários:

Elâine disse...

"É melhor eu ir embora. Você fica chateada?" Ela deu um sorrisinho, e disse o de sempre. "Claro que não."

Ah, Valéria, eu teria resmungado. rs

No meio da tantas coisas, a gente percebe que sempre há solução, que as vezes nem percebemos, mas tudo ao nosso redor está conspirando ao nosso favor e, de uma forma leve, a gente percebe uqe há sempre uma luz e que é sempre bom passar por tudo isso. A gente levanta mais forte d que nunca, principalmente depois de ouvir a palavra FÉ, quando a gente menos espera.

Beijos no seu coração.
Ah, seu blog tá cada dia mais lindo. *---*

Valéria Rodrigues disse...

Muuuito obrigada! É sempre bom quando vocês dividem isso comigo, (:
Abraço quentinho.