março 08, 2011

De volta.

Abrir aquela porta foi ainda mais difícil que fechá-la. O cheiro ainda era tão vivo que nem parecia ter se passado tanto tempo. Soubesse disso, teria demorado mais pra voltar. Olhou ao redor e viu que tudo ainda continuava no seu devido lugar, só que agora coberto por uma fina camada de poeira. "Sabia que devia ter pago alguém pra vir aqui de vez em quando". Irritou-se quando percebeu que cada lugar daquela casa estava impregnado com uma lembrança. De um sorriso, de um beijo, de um afago, de um amor que há muito já não brilhava por ali.

Largou a mala no chão, sentou-se na poltrona, e se perguntou porque diabos havia voltado. Não sabia, mas algum motivo deveria ter. Há algum tempo sentia seu coração pedindo por aquilo, pedindo por aquele lugar. Era como se o destino pedisse pra que voltasse, então voltou. Mas e agora que estava ali, faria o que? Sabia que não choraria mais. Não havia mais necessidade. Fosse lá o motivo pra aquilo tudo ter acontecido, aconteceu, e agora era passado. Mas se era passado, então porque o seu coração ainda sentia tanto aquele cheiro? Ele não podia estar mesmo ali, já fazia tanto tempo..

Descansou a cabeça na poltrona e fechou os olhos. Sentiu paz. Uma paz que há muito não sentia. Uma paz que era quase palpável, quase visível, quase brilhante. Sorriu um risindo de canto de boca e respirou profundo. Entendeu. Estava ali porque havia cansado de fugir do passado. Aquele amor nunca voltaria a ser o que era, mas isso não ia fazer com que ele deixasse de ser o que foi. Talvez - e muito provavelmente - nunca mais vivesse um amor como aquele, mas já estava mais do que na hora de voltar a viver. Abriu os olhos. O cheiro ainda continuava impregnado no ambiente, as lembranças ainda estavam por todo lugar, mas agora isso já não fazia mal. Voltou ao presente. Estava em casa novamente.
V. Rodrigues

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