março 03, 2011

Pago.

Com a luz apagada esse quarto me parece ainda mais sombrio. Em pensar que poucas horas atrás ele me parecia o lugar mais aconchegante de toda a cidade. Me ergo da cadeira e acendo a luz, tentando espantar um pouco a solidão. Vejo que meu estoque de cigarros está perigosamente reduzido, e que agora só tenho um único litro de wisk, pela metade. Olho pras chaves do carro, mas sinto preguiça de ir comprar mais. Preguiça, cansaço, vergonha, medo, não consigo se quer decifrar os sentimentos que sinto.

Um gosto horrível de desgosto na boca, misturado com um pouco de conhaque. Acho que estou bêbado. Ponho uma bala de menta na boca e o gosto me parece horrível. É, realmente estou bêbado. E ela, onde estará? Será que já está em outra cama? Será que já aquece um outro corpo? Muito provável. É sua profissão.

Não entendo como pude me apaixonar assim. Logo eu, que tão pouco me envolvo, me envolver justo com ela. Acho que foram aqueles olhos de gata que te comem vivo, ou talvez aquele jeito de andar, como se a rua fosse uma passarela. Também pode ter sido aquele sorriso, ou jeito como ela afasta o cabelo dos olhos quando eles caem. Não me importo de verdade. Apenas sinto, e enfim entendo o que as pessoas querem dizer quando falam que isso é simples.  Penso nela e me sinto bem novamente. Não me importa de quem ela seja nesse momento. Amanhã ela será minha mais uma vez, só minha. Afinal, um pouco de amor - mesmo que pago - não faz mal a ninguém.
V. Rodrigues

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