setembro 05, 2011

Olhou o papel e viu nele toda a história já escrita, sem nem precisar pensar.
A história da garota, que nem tinha mais a inocência de uma menina, nem era tão esperta quanto uma mulher, então ia ser chamada de garota mesmo. Garota que nem era moçinha, nem era vilã, era só... normal. Não tinha um amor pra vida toda, nem algum amor platônico que lhe tirasse o sono toda noite, mas nem por isso era insensível. Ela só não tinha pressa pra essa coisa toda do amor eros. Não era linda, estilo sonho de garoto americano, mas também não era feia a ponto de chorar. Tinha um corpo normal, que agradava alguns e outros não. Mas ela não se importava com isso. Não porque não se importasse com aparência e coisa e tal. Só porque na vida real as pessoas não são bem assim. E a tal garota era bem real. Do tipo que acorda as seis, trabalha as sete, duas horas de almoço, trabalho de novo, casa e descanso. Chope com a galera quando tá com grana sobrando, ou então filme no pc quando a coisa tá mais apertada. Ombro amigo pra amiga que tá deprê, comentarista de futebol pro amigo que se acha sabidão. Ela era normal, sem nenhum desses enfeites literários que escritor tem mania de usar.
Dai ela viu que hoje em dia é tão difícil achar alguém que se deixe ser normal, que resolveu não escrever sobre a tal garota. Talvez porque ninguém ia se interessar por ler sobre ela, já que hoje em dia a moda é ser diferente. Ou talvez porque ela era tão preciosa que não podia ser perdida assim, porque na hora que ela fosse pro papel, ela ia deixar de ser normal.
Sei lá... todo mundo fala que "ser simples é ser incrível". Mas no fundo ninguém quer mesmo ser simples, não é? Ninguém que mesmo ser normal.
Vai ver a gente é tão cego que não consegue perceber que ser simples não é um modo de ser... ser simples é o normal. Então o normal é ser incrível, não é? Mas a gente não sabe, e tenta enfeitar, e tenta embelezar, e tenta ser simples, e acaba sendo ninguém. Acaba sem saber quem é.

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