É tão difícil deixar o silêncio agir dentro de nós. Talvez seja porque o silêncio sempre trás de nós aquela lembrança que muitas vezes a gente nem quer lembrar, como aquele amigo que já não mora mais perto, aquele sonho que passou da data de ser realizado, aquele abraço que não teve tempo de ser dado. Minha mãe olhou hoje pra mim e me falou uma frase que eu acho que me fez pensar: ‘ê, minha menina cresceu!’ E não é que eu cresci mesmo! Crescer, talvez seja esse o meu medo. Bem ou mal, eu não sou mais aquela menininha que chegava em casa deprimida porque não tinha se saído bem na prova [é, eu era nerd], tá tudo tão diferente, tudo tão mais complexo, era tão bom ser criança. Hoje eu percebi que eu cresci o suficiente pra aprender que não se deve ter mil sonhos ao mesmo tempo, mas sim um de cada vez. Quando a gente sonha muito com as grandes coisas, acaba esquecendo as pequenas. Na verdade eu sei que nada mudou. Eu ainda sou aquela menina sonhadora, extrema, intensa [até demais, alguns diriam], mas eu sei que alguma coisa aconteceu. Eu já não desejo mais ser ouvida por todos, agradar a todos, ser sempre entendida, ter sempre a atenção dos outros, ter o carinho de todo mundo, aaah.. há muito tempo que eu percebi que isso é impossível. Hoje eu talvez me aceite mais. Eu não sou uma pessoa totalmente boa, tenho minha maldade, e às vezes até uso ela. Mas eu também sei ajudar, sei ser feliz, sei fazer feliz. Viver é como apostar numa roleta viciada, que dá sempre o mesmo resultado. Não adianta pra que lado você queira ir, ou finja querer talvez. A gente vai sempre pra um lado só, é o destino, é a vida. Eu lembro no dia que eu descobri que papai Noel não existia. Parece ridículo, mas eu chorei.. e foi naquele dia que eu comecei a perceber que viver se farsa dói. Lembro que eu pensava: porque todo esse fingimento, se ele não é de verdade. Falso, é isso que esse tal de bom velinho é! Talvez algumas pessoas pensem que eu não percebo o modo como elas me olham, o modo como elas me tratam. É uma frieza tão firme que me faz mal, e me faz mais mal ainda quando elas se esforçam pra camuflar essa frieza num calor falso, num sorriso amarelo. Imagino que algumas me achem insuportável, mas eu não me importo. Que julgue quem quiser e como quiser. É bom saber que eles estão julgando, mas estão julgando a mim, e não a um personagem que eu criei. E eu sei que agrado algumas pessoas, poucas, mas agrado. Deeesde a história do papai Noel que eu sei muito bem quem realmente me quer bem, e quem realmente me quer mal. E se quer saber, eu ainda sonho si, feito uma menina iludida, solta ao léu, esperando que alguém algum dia chegue pra sonhar junto comigo. Tenho medos, sonhos e desejos intermináveis, insaciáveis, mas acima de tudo indispensáveis. Isso é o que toma de conta da minha essência, e esta eu não mudo por nada, mas por nada nesse mundo. Minha essência é minha marca, minha vida, meu sinal pra Deus de que eu ainda tenho chances pra acertar, e vai que um dia eu acerto.
É mãe, eu cresci. Mas nem tanto.. no fundo eu ainda sou a tua menina.
V. Rodrigues
Ouvindo: Por enquanto - Cássia Eller [recomendo]
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