março 01, 2011

De gelo.

Acordou, mas não abriu os olhos. A noite passara tão rápido.. Queria muito ter mais uns instantes de sossego, então continuou com os olhos fechados, iludindo-se, achando que assim sua mente acharia que tudo ainda estava bem. Óbvio, não adiantou.

Abriu os olhos e viu que tinha acordado dez minutos mais cedo que o normal. Ficou feliz, ainda tinha dez minutos, e então, como que por reflexo, a mente vagou pra longe. Vagou pra outro universo. Um universo onde ela poderia fazer o que seu coração pedisse, onde ela poderia amá-lo sem vergonha, sem medo. Parecia ser um lugar tão bonito, parecia ser tão simples viver. Viver deveria ser simples, não? Não para ela. Esse peso que ela carregava, essa postura de rainha inabalável, essa coisa toda de ser superior, isso fazia tudo tão mais complexo que o normal. Em pensar que ela um dia já se orgulhara de ser assim. Como seria, talvez... Voltou. A música que a acordava toda manhã, aquela que não era a que ela realmente gostava, mas a que deveria gostar, começou a tocar. Sinal de que os dez minutos já haviam se esgotado. O dia começou.

Levantou-se e, como que num ritual, repetiu - talvez pela milésima vez - : Por que eu tive que me apaixonar por ele? Derramou a lágrima diária enquanto escovava os cabelos, olhou-se no espelho por um pequeno instante - o único em que ela realmente se via, - ergueu-se, vestiu sua armadura, e saiu. O dia não podia esperar.

V. Rodrigues

2 comentários:

Cleiton de Oliveira disse...

Você é surpreendentemente genial.
E seu blog virou meu vício das 6 da tarde. :D
Parabéns V. mó da hora. (;

Valéria Rodrigues disse...

Obrigada Cleiton,
sinta-se sempre em casa.
Abraço quentinho,
Valéria Rodrigues