março 18, 2011

Mudança.

Pela janela do ônibus via as imagens passarem por ela. Borrões de uma vida que era deixada para trás. Olhou pro céu e viu que a noite não era de lua. "Hoje é a vez das estrelas brilharem", pensou, quase que em tom de revanche, quase como se aquilo lhe servisse também. E como elas brilhavam! O céu, de um azul-escuro perfeito - aquele que aparece nas primeiras horinhas do anoitecer - só era manchado, aqui e aculá, por um fiozinho de nuvem, daqueles que mais parecem fumaça. Do jeitinho que ela gostava.

Sentiu saudade. Saudade do que tinha deixado. Nada material, na verdade não era se quer algo sentimental. Sentiu saudade de quem era, e isso ameaçou fazê-la chorar, mas não chorou. Nunca gostou de choro. Achava feio, feio como achava a chuva. Coisa molhada, melosa. Gostava do sorriso, mesmo amargo, mas sorriso. Então sorriu.

Olhou em volta e se viu cercada de tantas vidas.. Será que uma delas se costuraria a dela, assim como dissera a Briza? Será que alguém estaria disposto a amar a nova pessoa que foi obrigada a surgir? Quem sabe, talvez.. "Pipoca, moça?", perguntou a menininha que estava ao seu lado. Sorriu um riso doce, como há tempos não sorria. Sentiu vontade de abraça-la, mas limitou-se a rejeitar e agradecer. Vai ver, no fim das contas, ela não estava tão diferente assim. E se estivesse, tudo bem, porque no fundo ela sabia: não importava o que ela foi, importava o que ela iria ser.
V. Rodrigues

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