junho 01, 2011

sobre os cuidados Dele.

(...)
_ Padre - disse Chartrand -, posso lhe fazer uma pergunta esquisita?
O carmelengo sorriu.
_ Só se eu puder lhe dar uma resposta esquisita.
Chartrand achou graça.
_ Já perguntei isto a todos os padres que conheço e continuo não entendendo.
_ O que é que você não entende?
(...)
Chartrand respirou fundo.
_ Não entendo o que vem a ser uma onipotência benevolente.
O camerlengo sorriu.
(...)
_ Onipotente e benevolente significa apenas que Deus é todo-poderoso e bem-intencionado.
_ Compreendo o conceito. É que parece haver uma contradição aí.
_ Sim. A contradição é a dor. A fome, as guerras, as doenças.
_ Exatamente! - Chartrand sabia que o carmelengo compreenderia. - Coisas terríveis acontecem neste mundo. A tragédia humana é como uma prova de que Deus não pode ser simultaneamente todo-poderoso e bem-intencionado. Se ele nos ama e tem poder de mudar nossa situação, Ele deveria também evitar nossas dores, não é?
_ Deveria mesmo? - perguntou o carmelengo.
Chartrand ficou embaraçado. (...)
_ Bem, se Deus nos ama, se é capaz de nos proteger, Ele deveria, sim. Parece que Ele é onipotente e indiferente ou, ao contrário, benevolente e incapaz de nos ajudar.
_ Tem filhos, tenente?
Chartrand enrubesceu.
_ Não, signore.
_ Imagine se tivesse um filho de oito anos. Você o amaria?
_ Claro.
_ E faria tudo que pudesse para evitar que ele sofresse na vida?
_ Claro que sim.
_ E deixaria que ele andasse de skate?
_ Sim, acho que sim - disse Chartrand. - Com certeza deixaria que andasse de skate, mas diria a ele para ter cuidado.
_ Quer dizer que, como pai desse menino, você lhe daria uns bons conselhos básicos e deixaria que saísse e cometesse seus próprios erros?
_ Eu não correria atrás dele para mimá-lo, se é o que o senhor quer dizer.
_ E se ele caísse e ralasse o joelho?
_ Ele aprenderia a ser mais cuidadoso.
O carmelengo sorriu de novo.
_ Então, quer dizer que, mesmo tendo o poder de interferir e evitar que seu filho sentisse dor, você optaria por demonstrar seu amor deixando-o aprender suas próprias lições?
_ Claro, a dor é parte do crescimento. É como aprendemos.
O camerlengo sacudiu a cabeça.
_ Exatamente.
(Trecho de 'Anjos e Demônios', 
pág. 272a)

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